Orpheu Leal

Como é bom viver em Paz!

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                    OS CONTENDORES
 
      As surpresas surgem, às vezes, do nada, ora são boas, ora ruins. Raramente vou a Sepetiba e, certo dia, eu tive de ir até lá, a serviço. Aproveitei para dar um passeio e fui caminhando despreocupado pelas ruas, perto da praia, quando encontrei um velho amigo, o Pimenta, tipo baixinho, atarracado, com quarenta e poucos anos de idade, sujeito simples, educado. Batemos um papo de confraternização e fizemos um lanche num bar. Relembramos histórias do trabalho e a conversa se prolongou. Nós nos conhecemos no Fórum, ele como advogado militante e eu como funcionário da Justiça. Disse-me que ia para Campo Grande, de ônibus, pois estava sem carro. Ofereci-lhe uma carona, e minha rota era aquela mesma, além de Campo Grande, isto é, Bangu. Pegamos o carro e seguimos.
      Era um dia de sol e o trânsito tranquilo, com pouco movimento. Quando já passava de mais da metade do trajeto, passamos num lugar onde dois indivíduos brigavam: um deles era enorme, forte feito um touro e batia impiedosamente no outro. Aquilo era uma verdadeira covardia. O Pimenta pediu para eu parar. Eu lhe perguntei:
      ― O que você vai fazer? É perigoso, o fortão pode bater em você.
Respondeu-me:
      ― Não se preocupe Leal, de uma boa conversa ninguém escapa. Você não sabe que eu sou advogado malandro, bom de papo, perito em uma boa retórica?
       Eu pensei com os meus botões: “Esse meu amigo está doido, o homem vai bater nele, com toda certeza e eu serei obrigado a me meter na briga e apanhar também; se eu soubesse, não teria trazido esse maluco”.            -Quero saber só o motivo da briga e por que bate tanto no outro, com tamanha violência?
     O grandão foi logo dizendo:
      ― Não se meta, seu idiota, baixinho atrevido, se não vai apanhar também.
      Pimenta insistiu, tentando dar fim àquela selvageria.
      ― O que foi que ele fez, perguntou.
      ― Não é da sua conta, mas ele é abusado, e você vai apanhar também, para aprender a não se meter com os outros.
      Fiquei apavorado ao ver que a coisa ia sobrar pra mim. Afinal, eu não podia deixar que apanhasse sozinho. De repente, ante a investida do valentão contra o meu amigo, qual não foi a minha surpresa quando ele reagiu, como mestre, dando-lhe um golpe de jiu-jitsu, que derrubou logo o agressor. Levantando-se, como uma fera ferida, fez nova investida contra o meu amigo. A reação foi imediata: quando recebeu um pontapé, segurou fortemente o pé do adversário, torcendo-o com tanta violência que, por pouco, não quebrou a perna do outro. Acabou a luta em um minuto.
      O outro brigão, aproveitando a oportunidade, sumiu, enquanto o valentão ficou caído no chão. Fiquei estupefato, boquiaberto. Nunca podia imaginar tal desfecho e, muito menos, que o meu amigo fosse faixa- preta de jiu-jitsu.
Entramos no carro e seguimos em frente. Eu lhe disse:
      ― Ainda bem que somos amigos e jamais irei brigar com você. Levei um susto danado e pensei que o grandão fosse triturá-lo. Parabéns!
 

 
Orpheu Leal
Enviado por Orpheu Leal em 21/06/2020


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